terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Capitulo 33

33
...♪...
Ronnie
"Você realmente terminou a janela?"
Ronnie observava seu pai enquanto ele falava com Jonah no quarto do
hospital, pensando que ele parecia melhor. Ele ainda parecia cansado,
mas suas bochechas tinham um pouco mais de cor e ele estava se
movendo com mais facilidade.
"É incrível, pai", Jonah disse. "Eu mal posso esperar para que você veja"
"Mas ainda faltavam tantos pedaços..."
"Ronnie e Will me ajudaram um pouco", Joanh admitiu.
"Ah é?"
"Eu tive que ensinar a eles. Eles não sabiam fazer nada. Mas não se
preocupe, eu fui paciente, mesmo quando eles cometiam erros"
Seu pai sorriu. "Que bom ouvir isso"
"É, eu sou um bom professor"
"Tenho certeza que sim"
Jonah enrugou o nariz. "Aqui tem um cheiro engraçado, não?"
"Um pouco"
Jonah acenou. "Eu imaginei que sim". Ele se virou para a televisão. "Você
tem assistido algum filme?"
Seu pai sacudiu a cabeça. "Não muitos"
"O que isso faz?"
Seu pai olhou para a bolsa de IV. "Tem um remédio ai dentro"
"Vai fazer você melhorar?"
"Eu estou me sentindo melhor agora"
"Então você vai para casa?"
"Muito em breve"
"Hoje?"
"Talvez amanhã", ele disse. "Mas sabe o que eu gostaria?"
"O quê?"
"Uma soda. Você lembra onde fica a cafeteria? Descendo a escada e
virando a esquina?"
"Eu sei onde fica. Eu não sou uma criança. Qual soda você quer?"
"Um Sprite ou um Seven-Up"
"Eu não tenho dinheiro"
Quando seu pai olhou para ela, Ronnie entendeu como uma sugestão
para checar seu bolso. "Eu tenho aqui", ela disse. Ela deu a ele o que
achava que era suficiente para o refrigerante, e ele saiu. Assim que a
porta se fechou, ela sentiu seu pai encarando-a.
"O advogado ligou essa manhã. Ele adiou a data do seu julgamento para
o final de Outubro"
O olhar de Ronnie fixou-se na janela. "Eu não posso pensar nisso agora"
"Sinto muito", ele disse. Ele ficou quieto por um momento, e ela pôde
sentir que ele a estava observando. "Como Jonah está realmente
suportando isso?", ele perguntou.
Ronnie deu de ombros. "Ele está perdido. Confuso. Assustado. Mal
aguentando estando acompanhado". Como eu, ela quis dizer.
Seu pai acenou para que ela se aproximasse. Ela sentou-se na cadeira
que Jonah estava. Ele procurou pela mão dela, e sorriu. "Me desculpe se
não estou sendo forte o suficiente para ficar fora do hospital. Eu nunca
quis que você me visse assim"
Ela já estava sacudindo a cabeça. "Nunca, jamais desculpe-se por isso"
"Mas - "
"Sem mas, ok? Eu precisava saber. Estou contente por saber"
Ele pareceu aceitar isso. Mas então, ele a surpreendeu.
"Você quer falar sobre o que aconteceu com Will?"
"O que faz você falar algo assim?", ela perguntou.
"Porque eu conheço você. Porque eu sei que tem algo mais em sua
mente. E porque eu sei o quanto você se preocupa com ele"
Ronnie endireitou-se na cadeira, não querendo mentir para ele. "Ele foi
para casa fazer as malas", ela disse.
Ela podia sentir seu pai estudando-a.
"Alguma vez eu te disse que meu pai era um jogador de pôquer?"
"Sim, você me disse. Porquê? Você quer jogar pôquer?"
"Não", ele disse. "Eu só sei que tem mais acontecendo com Will do que
você está me dizendo, mas se você não quer falar sobre isso, tudo bem."
Ronnie hesitou. Ela sabia que ele entenderia, mas ela não estava pronta
ainda. "Como eu disse, ele está partindo", ela disse. E com um aceno, seu
pai deixou esse assunto.
"Você parece cansada", ele disse. "Você deveria ir para a casa e tirar um
cochilo mais tarde"
"Eu vou. Mas eu quero ficar aqui um pouco mais"
Ele ajustou suas mãos nas dela. "Ok"
Ela olhou para a bolsa de IV que Jonah tinha observado mais cedo. Mas
diferente de seu irmão, ela sabia que aquilo não era um remédio para
fazê-lo sentir-se melhor.
"Dói?", ela perguntou.
Ele pensou antes de responder. "Não", ele disse. "Não muito"
"Mas costumava doer?"
Seu pai começou a sacudir a cabeça. "Querida..."
"Eu quero saber. Doía antes de você vir para cá? Diga-me a verdade, está
bem?"
Ele coçou o peito antes de responder. "Sim"
"Durante quanto tempo?"
"Eu não sei o que você - "
"Eu quero saber quando começou a machucar", Ronnie disse,
debruçando-se sobre a cama. Ela queria que ele encontrasse seus olhos.
De novo, ele sacudiu a cabeça. "Isso não é importante. Eu estou me
sentindo melhor. E o médico sabe o que fazer para continuar me
ajudando"
"Por favor", ela disse. "Quando começou a doer?"
Ele olhou para baixo, para suas mãos tão apertadas. "Eu não sei. Março
ou Abril? Mas não era todo dia - "
"Quando doía antes", ela continuou, determinada a ouvir a verdade, "o
que você fazia?"
"Não era tão ruim antes", ele respondeu.
"Mas ainda doía, certo?"
"Sim"
"O que você fazia?"
"Eu não sei", ele protestou. "Eu tentava não pensar sobre isso. Eu focava
em outras coisas"
Ela podia sentir a tensão em seus ombros, odiando que ele talvez
dissesse, mas precisando saber. "No que você focava?"
Seu pai alisou uma ruga no lençol com a mão. "Porquê isso é tão
importante para você?"
"Porque eu quero saber quando você focava em outra coisa, se sua
atenção voltava para o piano"
Assim que ela disse isso, ela soube que estava certa. "Eu vi você tocando
naquela noite na igreja, a noite que você teve um ataque de tosse. E
Jonah disse que você estava indo escondido para a igreja desde que o
piano tinha chegado"
"Querida - "
"Você lembra quando disse que tocar piano fazia você se sentir melhor?"
Seu pai acenou. Ele podia vir o que estava vindo, e ela tinha certeza que
ele não queria responder. Mas ela precisava saber.
"Você queria dizer que você não sentia tanta dor enquanto tocava? E por
favor, diga-me a verdade. Eu saberei se você estiver mentindo". Ronnie
não ia se distrair. Não desta vez.
Ele fechou seus olhos brevemente, e então encontrou seu olhar. "Sim"
"Mas você construi a parede ao redor do piano mesmo assim?"
"Sim", ele disse novamente.
Com isso, ela sentiu sua frágil postura desmoronar. Sua boca começou a
tremer enquanto ela deitava sua cabeça no colo de seu pai.
Seu pai estendeu a mão até ela. "Não chore", ele disse. "Por favor, não
chore"
Mas ela não podia evitar. As lembranças de como ela tinha agido, e o
conhecimento do que ele tinha passado estava drenando qualquer
energia que ela tinha sobrando. "Oh, papai..."
"Não, meu bem... Por favor, não chore; Não era tão ruim antes. E pensei
que poderia
aguentar, e eu acho que aguentei. Não era tão ruim até semana
passada..." Ele colocou um dedo no queixo dela, e quando ela olhou em
seus olhos, e o que ela viu quase quebrou seu coração. Ela teve que
olhar para longe.
"Eu pude lidar com a dor até então", ele repetiu, e ela soube pela voz dele
que era verdade. "Eu prometo. Doía, mas não era a única coisa em que
eu pensava, porque eu podia escapar de outras maneiras. Como
trabalhando na janela com Jonah, ou apenas aproveitando o verão que eu
sonhava quando eu perguntei sua mãe se vocês dois poderiam ficar aqui
comigo"
Suas palavras queimavam ela, seu perdão era mais do que ela podia
suportar. "Eu sinto tanto, papai"
"Olhe para mim", ele disse, mas ela não podia. Ela só conseguia pensar
na necessidade de seu pai pelo piano, algo que ela tirou dele. Porque ela
só pensava nela mesma. Porque ela queria magoá-lo. Porque ela não se
importava.
"Olhe para mim", ele disse de novo. Sua voz era suave, mas insistente.
Relutantemente, ela levantou a cabeça.
"Eu tive o mais maravilhoso verão da minha vida", ele sussurrou. "Eu vi
você salvando as tartarugas, e eu tive a chance de ver você se
apaixonando, mesmo que isso não dure para sempre. E o melhor de tudo,
eu conheci você como uma jovem mulher, não como uma pequena
criança, pela primeira vez. E eu não posso dizer a você quanta alegria
isso tudo me trouxe. Foi isso que me fez passar pelo verão"
Ela soube que suas palavras eram sinceras, o que só a fez sentir-se pior.
Ela estava prestes a dizer algo quando Jonah irrompeu pela porta.
"Olhe quem eu achei", ele disse, gesticulando com a lata de Sprite.
Ronnie olhou para cima para ver sua mãe parada atrás de Jonah.
"Olá, querida", ela disse.
Ronnie virou-se para seu pai.
Ele franziu os olhos. "Eu tive que ligar para ela", ele explicou.
"Você está bem?", sua mãe perguntou;.
"Eu estou bem, Kim", seu pai respondeu.
Sua mãe aceitou aquilo como um convite para entrar no quarto. "Eu acho
que todos nós precisamos conversar", ela anunciou.
Naquela manhã, Ronnie tinha tomado uma decisão e estava esperando
em seu quarto quando sua mãe entrou.
"Você já terminou de fazer as malas?"
Ela encarou sua mãe, com um olhar calmo, mas determinado. "Eu não
vou voltar com você para Nova York"
Kim colocou suas mãos no quadril. "Pensei que já tínhamos falado sobre
isso"
"Não", Ronnie disse. "Você falou sobre isso. Mas eu não vou com você"
Sua mãe ignorou seu comentário. "Não seja ridícula. É claro que você vai
para casa"
"Eu não vou voltar para Nova York". Ronnie cruzou os braços, mas não
alterou sua voz.
"Ronnie..."
Ela balançou a cabeça, sabendo que nunca tinha falado tão sério em toda
sua vida. "Eu vou ficar, e eu não vou discutir isso. Eu tenho dezoito anos
agora, e você não pode me obrigar a voltar com você. Eu sou uma adulta
e eu posso fazer o que eu quero"
Enquanto absorvia as palavras de Ronnie, sua mãe deslocava-se de um
pé para outro, incerta.
"Isso...", ela finalmente disse, gesticulando em direção a dala, tentanto
soar razoável. "Isso não é sua responsabilidade"
Ronnie deu um passo em direção a ela. "Não? Então é de quem? Quem
vai tomar conta dele?"
"Seu pai e eu falamos sobre isso..."
"Oh, você quer dizer o pastor Harris?", Ronnie exigiu. "Ah claro, como se
ele pudesse tomar conta do papai se ele tiver um colapso e começar a
vomitar sangue de novo. Pastor Harris não pode lidar com isso"
"Ronnie...", sua mãe começou de novo.
Ronnie jogou suas mãos no ar, sua frustração e resolução crescendo. "Só
porque você continua zangada com ele não significa que eu também
tenha que estar, ok? Eu sei o que ele fez e eu sinto muito que ele tenha
machucado você, mas isso é sobre meu pai. Ele está doente e precisa da
minha ajuda, e eu vou ficar aqui por ele. Eu não me importo se ele teve
um caso, eu não me importo que ele tenha nos deixado. Mas eu me
importo com ele."
Pela primeira vez, sua mãe parecia genuinamente surpresa. Quando ela
falou novamente, sua voz era suave. "O que exatamente seu pai te
contou?"
Ronnie estavas prestes a protestar que isso não importava, mas algo a
impediu. A expressão de sua mãe era estranha, quase como... culpa.
Como se... como se...
Ela encarou sua mãe, reconhecimento batendo nela enquanto ela falava.
"Não foi o papai que teve um caso, não é?", ela disse lentamente. "Foi
você"
A postura de sua mãe não mudou, mas ela parecia arrasada. A realidade
atingiu Ronnie quase como uma força física.
Sua mãe teve um caso, não seu pai.
O quarto parecia sufocante de repente, enquanto as implicações
tornavam-se claras. "Foi por isso que ele partiu, não é? Porque ele
descobriu. Mas você me deixou acreditar durante todo esse tempo que
era tudo culpa dele, que ele tinha partido sem nenhum motivo. Você fingiu
que tinha sido ele, quando foi você a culpada. Como você pôde fazer
isso?" Ronnie mal podia respirar.
Sua mãe parecia incapaz de falar, e Ronnie perguntava-se a si mesma se
ela conhecia sua mãe de verdade.
"Era o Brian?", ela peerguntou de repente. "Você estava traindo o papai
com o Brian?"
Sua mãe continuou em silêncio, e Ronnie soube que estava certa
novamente.
Sua mãe tinha deixado ela acreditar que seu pai tinha partido sem motivo
nenhum. E eu não falei com ele durante três anos por causa disso...
"Você quer saber?", Ronie estourou. "Eu não me importo. Eu não me
importo com o que aconteceu entre vocês dois, eu não ligo para o que
aconteceu no passado. Mas eu não vou deixar meu pai, e você não pode
me - "
"Quem não vai partir?", Jonah interrompeu. Ele tinha acabado de entrar
no quarto, segurando um copo de leite, e ele virou de sua mãe para ela.
Ela podia ouvir o pânico na voz dele.
"Você vai ficar aqui?", ele perguntou.
Ronnie levou um momento para controlar usa raiva. "Sim", ela disse,
esperando ter soado calma. "Eu vou ficar"
Ele colocou seu copo na mesa. "Então eu vou ficar também!", ele
anunciou.
Sua mãe olhou para ela, indefesa, e apesar de sentir sua raiva ainda
afiada, de jeito nenhum que ela ia permitir que Jonah assistisse seu pai
morrer. Ela cruzou o quarto e abaixou.
"Eu sei que você quer ficar, mas você não pode", ela disse, gentilmente.
"Porquê não? Você vai ficar"
"Mas eu não tenho escola"
"E daí? Eu posso ir à escola daqui. Eu e papai falamos sobre isso"
Sua mãe foi em direção a ele... "Jonah..."
Jonah se afastou de repente, e ela podia ouvir o pânico subindo na voz
dele quando ele percebeu que era minoria. "Eu não me importo com a
escola! Isso não é justo! Eu quero ficar aqui!"
......

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